domingo, 24 de outubro de 2010

Às vezes, por um vento estranho, uma semente acaba caindo em uma caverna. Sombria, assustadora. E a semente pode germinar.
A jovem planta precisa de luz para se desenvolver. Mas essa luz não existe para ela. E o brotinho ainda cresce, se estica muito em busca da luz que necessita. Desenvolve seu topo para se fixar em algum suporte, algo que a sustente, mas muitas vezes não o encontra.
E depois de toda essa luta, a luz pode aparecer. Mas aí já não adianta porque a planta não vai saber como aproveitá-la, não tem a substância necessária, e não consegue desenvolvê-la. A morte prematura é a única coisa que resta à plantinha.
Na biologia essas plantas são chamadas estioladas. Mas e se forem pessoas?

domingo, 17 de outubro de 2010

Como a televisão era triste!
Não havia um dia sem lamentações. Lamentava porque não gostava do que exibia. Se perguntava por que não podia mostrar algo diferente daqueles programas vazios e sensacionalistas. Tentava mudar a programação, mas tinha que se submeter ao poder do controle remoto.
Ainda se lembrava do horror de seu nascimento, com muitas mãos a colocando numa caixa, onde ficou por muito tempo, sozinha, sentido solavancos, movimentação que não entendia.
Acabou em cima de uma estante, numa sala feia de pessoas feias. Havia o homem gordo, que só queria saber de futebol. A mulher sem graça, que passava quase o dia todo na frente dela mudando de canal sempre porque só queria que o tempo passasse. Tinha o adolescente, que só assistia filmes de ação sem conteúdo algum ou pornôs tarde da noite. Tinha também o menino, que assistia o que os outros queriam porque não podia escolher.
Como a televisão tinha nojo daquilo!
E como ela queria ser uma janela! Poder olhar para o horizonte todos os dias. Não queria ser uma janela de cidade, que pode ver apenas uma parede. Ela queria ser uma janela de fazenda, aquelas janelas grandes, para poder ver as árvores, o céu estrelado.
Ela não se importaria em olhar para a mesma paisagem todos os dias. Nem mesmo se ninguém olhasse através dela. Ficaria até feliz de não ter pessoas tão patéticas olhando para ela, sem nunca ver. Como queria sair daquela sala feia!
E ainda tinha que ouvir os outros falando mal dela! Falando que não fazia bem, corrompia, usava as pessoas. Como ficava indignada com aquilo! Dava vontade de gritar: “a culpa é deles, eu só obedeço ao controle”. Mas não podia fazer isso. Tentou, e não conseguiu. Até que se resignou. Agora, alem de exibir os canais que odiava, passou a olhá-los também. E se tornou um membro da família.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ser.
Existe ação mais ampla e significativa? Existe algo mais essencial do que isso? Não sei a sua, mas a minha resposta é não.
Porém, vem a burra gramática dizer que “ser” não é um verbo de ação. E ousa mais, afirma que ele é um reles verbo de ligação vazio de significado.
Olhe que petulância!
Certeza que quem criou essa estúpida teoria não é muito culto porque não deve ter ouvido uma das frases mais famosas de todos os tempos: “Ser ou não ser? Eis a questão”.
Viu? A questão existencial de todo mundo é esta: “ser ou não ser”. Com “SER”, não com um outro verbosinho qualquer que a gramática considera de ação e por isso com significado!
ABAIXO A PREDICAÇÃO VERBAL!
SEJAMOS!!!
O importante não é o que acontece, mas sim como acontece. E não, não estou falando especificamente de sexo, embora ele também se encaixe nessa situação.
Por exemplo: você pode assistir a um filme bem clichê, aqueles que você sabe o resumo da história só de ver a capa e o titulo, mas você assiste e gosta. Ou então um livro que você não resiste à ansiedade e lê algumas partes na frente, assim você já sabe como a história termina, mas continua lendo.
(Quanto ao exemplo do sexo, pensem vocês mesmos).
O que leva à conclusão de que Maquiavel estava errado ao dizer que “os fins justificam os meios”. Na verdade, são os meios que justificam os fins. O final não seria nada sem toda a movimentação antes dele. O que seria do “felizes para sempre” dos contos de fada, das mortes de Romeu e Julieta, das novelas com seus finais ridículos, sem toda a complicação que levou a eles?

P.S.: E este foi mais um texto sem final, começo ou objetivo escrito por Alguém que não sabe do que está falando.

P.P.S.: E quem sou eu pra falar algo da gramática e de Maquiavel não é? Mas um pouco de prepotência as vezes é bom.