Ele
morreu.
Foi
morto.
Num
domingo que tinha tudo para ter sido tranquilo.
Tiros
no peito e na cabeça.
Foi
morto. É difícil acreditar.
Deixa mulher, dois filhos, familiares em desespero e
revolta, e uma região inteira curiosa e comovida.
Deixou uma lata de cerveja pela metade sobre o carro, que
ainda está lá, onde ele deixou.
Um passa e diz: “Para morrer basta estar vivo” e ele tem
razão, outros clamam por justiça, outros tentam ajudar e atrapalham, outros
ficam de um lado para o outro querendo ver, recolhendo e espalhando boatos.
Outros choram.
E enquanto ele jaz morto, sem ter noção de nada disso,
quantos ainda estão bebendo e se divertindo? Quantos estão reclamando da
segunda feira tão próxima? Quantos estão nascendo e quantos mais estão
morrendo?
Seu sangue vai secar na calçada fria, alguém vai limpá-lo
depois, vai desaparecer. A vida vai seguir para todos, menos para ele, que
ainda está onde caiu.
E a lata de cerveja continua no mesmo lugar, como um objeto
cenograficamente colocado como prova da tragédia.