domingo, 17 de outubro de 2010

Como a televisão era triste!
Não havia um dia sem lamentações. Lamentava porque não gostava do que exibia. Se perguntava por que não podia mostrar algo diferente daqueles programas vazios e sensacionalistas. Tentava mudar a programação, mas tinha que se submeter ao poder do controle remoto.
Ainda se lembrava do horror de seu nascimento, com muitas mãos a colocando numa caixa, onde ficou por muito tempo, sozinha, sentido solavancos, movimentação que não entendia.
Acabou em cima de uma estante, numa sala feia de pessoas feias. Havia o homem gordo, que só queria saber de futebol. A mulher sem graça, que passava quase o dia todo na frente dela mudando de canal sempre porque só queria que o tempo passasse. Tinha o adolescente, que só assistia filmes de ação sem conteúdo algum ou pornôs tarde da noite. Tinha também o menino, que assistia o que os outros queriam porque não podia escolher.
Como a televisão tinha nojo daquilo!
E como ela queria ser uma janela! Poder olhar para o horizonte todos os dias. Não queria ser uma janela de cidade, que pode ver apenas uma parede. Ela queria ser uma janela de fazenda, aquelas janelas grandes, para poder ver as árvores, o céu estrelado.
Ela não se importaria em olhar para a mesma paisagem todos os dias. Nem mesmo se ninguém olhasse através dela. Ficaria até feliz de não ter pessoas tão patéticas olhando para ela, sem nunca ver. Como queria sair daquela sala feia!
E ainda tinha que ouvir os outros falando mal dela! Falando que não fazia bem, corrompia, usava as pessoas. Como ficava indignada com aquilo! Dava vontade de gritar: “a culpa é deles, eu só obedeço ao controle”. Mas não podia fazer isso. Tentou, e não conseguiu. Até que se resignou. Agora, alem de exibir os canais que odiava, passou a olhá-los também. E se tornou um membro da família.

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