sexta-feira, 26 de novembro de 2010

TARDE DE CHUVA

Primeiro vem a nuvem. Que vai se esparramando, devagar, pelo céu, cobrindo-o de cinza. Uma nuvem tão pesada, que fica baixa, me deixando sempre com a nítida impressão de que, se subirmos num prédio bem alto, conseguiremos tocá-la. E sempre penso isso, mesmo sabendo que a nuvem está a uns 2 km de altura. O vento às vezes a segue. E chega batendo portas e fustigando árvores. Mas às vezes a nuvem vem sozinha, apenas com seu cheiro de chuva. Um cheiro tão indescritível e tão agradável. E depois dessa preparação cuidadosa do cenário, a água finalmente cai. Às vezes cai com raiva, outras com calma, ou ainda com dor. Mas a verdade é que ela só cai, esses sentimentos dela sou eu quem invento. Engraçado que não me lembro de uma chuva alegre, apesar de gostar muito delas. Não posso deixar de falar dos trovões, que rasgam, literalmente, o ar, depois do aviso prévio dos relâmpagos, para que não levemos um susto. E a chuva cai. Como se as nuvens fossem torcidas. E a água descolore o céu, deixando-o branco. E agora saio dos meus devaneios, porque esqueci de fechar as janelas.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Uma tarde qualquer. O Sol brilhando. Esculturas de nuvens cortando o céu. Uma arvore qualquer balançando seus galhos ao vento. Sentada na sombra aconchegante dela, uma menina de olhos brilhantes observava o redor. Sorria. Feliz. E até pensava baixinho, para não espantar os passarinhos de sua cabeça. Sonhava.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010


Nós, máquinas orgânicas, viemos equipados com um piloto automático de altíssima precisão. Todos nós usamos esse mecanismo para acordar. Desligar o despertador. Tomar banho. Escovar os dentes... Ou seja, ele é muito importante durante aquele período da manhã entre o levantar e o acordar de fato (o que pode demorar um pouco).
O problema é que muitas pessoas não acordam (as razões são variadas, e quase sempre infundadas), ficando no piloto automático o dia todo e às vezes até por dias inteiros. E continuam, sobrevivendo graças à vida latente e ao piloto, que vai executando tarefas que não são suas (com qualidade medíocre, diga-se de passagem).
E legiões inteiras de máquinas orgânicas inertes, mas ativas, operam por todos os lugares. Somos como “santos do pau oco”: uma casca bonita (ou não) apenas.
Mas não somos completamente vazios. Bem lá no meio existe uma vela. Que fica apagada enquanto o piloto automático atua.
E “de repente, não mais que de repente”: uma cor, ou um cheiro, ou um sabor, ou um som, ou uma dor, gera um sopro, suave, que entra por frestas que alguns, felizmente, deixam abertas.
O sopro acende a vela, que só se apagará caso seu próprio dono a abafe. A chama ilumina os olhos, faz brotar lagrimas ou desabrochar um sorriso. E, nessa hora, as máquinas orgânicas finalmente ganham vida e alma e se tornam humanos.

terça-feira, 2 de novembro de 2010


As lágrimas são fardos pesados demais para as pálpebras carregarem. E o coração, além de salgarem-nas de tristezas, as empurra com força. Então elas caem, abrindo caminho por entre os percalços do rosto. E o sonho de todas elas é caírem na boca para adoçar um beijo.