quarta-feira, 3 de novembro de 2010


Nós, máquinas orgânicas, viemos equipados com um piloto automático de altíssima precisão. Todos nós usamos esse mecanismo para acordar. Desligar o despertador. Tomar banho. Escovar os dentes... Ou seja, ele é muito importante durante aquele período da manhã entre o levantar e o acordar de fato (o que pode demorar um pouco).
O problema é que muitas pessoas não acordam (as razões são variadas, e quase sempre infundadas), ficando no piloto automático o dia todo e às vezes até por dias inteiros. E continuam, sobrevivendo graças à vida latente e ao piloto, que vai executando tarefas que não são suas (com qualidade medíocre, diga-se de passagem).
E legiões inteiras de máquinas orgânicas inertes, mas ativas, operam por todos os lugares. Somos como “santos do pau oco”: uma casca bonita (ou não) apenas.
Mas não somos completamente vazios. Bem lá no meio existe uma vela. Que fica apagada enquanto o piloto automático atua.
E “de repente, não mais que de repente”: uma cor, ou um cheiro, ou um sabor, ou um som, ou uma dor, gera um sopro, suave, que entra por frestas que alguns, felizmente, deixam abertas.
O sopro acende a vela, que só se apagará caso seu próprio dono a abafe. A chama ilumina os olhos, faz brotar lagrimas ou desabrochar um sorriso. E, nessa hora, as máquinas orgânicas finalmente ganham vida e alma e se tornam humanos.

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