Era um bloco de rua comum, onde você podia encontrar coelhas,
mágicos, freiras, palhaços... Todos juntos na mesma animação.
Nele, uma fada se destacou para o único olho descoberto de
um pirata que passava por ali. Ele se aproximou: “Eu acredito em fadas agora
que te vi.”.
Ela sorriu: “Não estou vestida de fada!”. Ele agora sim
percebeu que ela não tinha asas, estava usando um simples vestido branco que
contrastava com sua pele morena e uma máscara colorida sobre os olhos. “Minha
fantasia chama-se: ninfa da espuma das ondas quebrando na praia” e riu.
E o pirata, também sorrindo: “Como não percebi antes? Aliás,
uma fantasia muito carnavalesca.”
E assim, simples como o riso, uma certa intimidade se instalou
entre eles, e muito pouco tempo depois os dois estavam aos beijos.
Num arroubo de prudência ele apenas perguntou: “Você não é
como as sereias que encantam os marinheiros para afogá-los depois, é?”? Porque
a prudência é algo muito racional para carnavais.
“Geralmente esse é o meu trabalho, mas estamos em feriado de
carnaval também.”.
Conversaram pouco e sobre nada importante. O mundo naqueles
instantes se resumia à música tocando, à alegria em volta, um ao outro. Curtiam
para esquecer e para lembrar-se disso depois.
E o tempo passou com o bloco, sem que ninguém o notasse. Até
que restaram poucas pessoas e a música já não era contínua. A ninfa e seu
pirata estavam sentados num banco de praça, corpos entregues aos braços um do
outro.
Ela disse que tinha que ir, ele pediu que ficasse, “Não
posso” foi a resposta.
“Espere! Qual é o seu nome?”
“Ninfa das ondas... eu já me esqueci”, rindo.
Um longo beijo de
despedida, ela se levanta e vai saindo.
“Mas nem vi seu rosto!”
“Melhor assim. As fantasias não sobrevivem na realidade lá
fora.”
“Mas talvez a gente possa se encontrar.”
“Quem sabe em outro carnaval, com outras fantasias.”
E em uma atmosfera quase sonolenta, o pirata ficou olhando a
sua ninfa do mar ir embora, olhando para ele, macia como uma calma onda
voltando ao oceano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário